Tá na Copa #8 - Kevin De Bruyne, e o erro de Mourinho



Revelado pelo Genk, de seu país natal, e subindo ao time principal na temporada 2008-09, Kevin De Bruyne esperou apenas duas temporadas para começar a brilhar na Belgian Pro League. 2010-11 foi sua primeira época em alto - altíssimo - nível, quando conquistou o título do Campeonato Belga, terminando a competição com 6 gols marcados e 17 assistências dadas, em 36 jogos. Na próxima, ele continuara a se destacar, desta vez com 8 gols e 15 assistências, além do título da Supercopa Belga.

Muito além dos excelentes números, De Bruyne já se destacava muito pelo que mostrava em campo: um toque de bola categórico, dribles bonitos e precisos, ótimos chutes, e uma enorme qualidade para armar as jogadas do time. Chamou a atenção de vários gigantes europeus, contudo, Roman Abramovich foi rápido, e trouxe o jogador para o Chelsea. Com jogadores como Oscar, Hazard e Juan Mata como concorrentes na equipe, Kevin não teve espaço, e logo foi encaminhado ao Werder Bremen-ALE, por empréstimo.

Apostar no campeonato alemão foi uma bela sacada dos Blues, pois a liga tem um costume de transformar vários jovens jogadores em grandes craques. Com De Bruyne não foi diferente. Claro que ele não se tornou um craque; mas jogar no Bremen foi fundamental para seu crescimento: além de manter a regularidade nas estatísticas (10 gols e 10 assistências na temporada), ele foi se acostumando a jogar contra equipes de nível mais alto, e sua mentalidade como jogador cresceu bastante. Recebeu o prêmio de Melhor Jogador Jovem da Bundesliga 2012-13, e também vieram muitas expectativas para com seu futuro no Chelsea.

O belga retornou ao clube inglês, que havia trocado de comando: José Mourinho também tornara a treinar os Blues, e o caminho dos dois foi marcado por controvérsias...

Ele recebeu chances de jogar durante a pré-temporada do Chelsea, sendo escalado para jogar pelos lados do campo. Jogou muito bem, marcou 2 gols e deu 1 assistência, além dos elogios, póstumos, de Mourinho.

"O miúdo é um jogador fantástico. É miúdo, mas é um adulto lá dentro, espero que volte em breve." - disse Mourinho, numa entrevista após um amistoso de pré-temporada.

No começo da Premier League, foi utilizado três vezes: titular contra Hull City e Manchester United, e reserva utilizado, contra o Fulham. Deixou um assistência, além do ótimo desempenho. Também foi titular em três partidas da Copa da Liga, contra Swindon City, Arsenal e Sunderland. Na Liga dos Campeões, não foi escalado para o jogo contra o Steaua Bucareste, o que veio a surpreender a todos.

"Ele não foi convocado porque eu não gostei do jogo que ele fez contra o Swindon, e do jeito que ele vem treinando." - novas palavras de Mourinho, dias antes do jogo pela Liga dos Campeões da Europa.
Esta declaração do 'Special One', surgiu dias após o jogo contra o Swindon City (pela Copa da Liga), que foi após os três jogos em que o belga havia sido utilizado na Premier League. Após isto, Kevin foi rebaixado para o Time B do Chelsea, e só voltou a ser utilizado no principal 6 jogos depois, demorando mais 10 partidas para jogar novamente - ambas pelejas como titular, pela Copa da Liga. Após isso, entrou em campo faltando poucos minutos para o fim, nas partidas contra o Schalke 04, Basel e Steaua, pela UCL.
Em 18 de janeiro, foi anunciada a sua venda para o Wolfsburg-ALE, por cerca de 18 milhões de euros. Nos Lobos, terminou a temporada com 27 aparições, deixou 3 gols e 8 assistências; mais uma vez, com muito destaque no torneio.
Esta situação não preocupava muito o Chelsea, que, por sua vez, contava com meio-campistas como Hazard, Oscar, Willian e Salah, além de Schürrle, que também joga por ali. O time continuou jogando seu futebol, teve um bom desempenho na Premier League, e garantiu uma vaga para a próxima UCL. Considerando a chegada de um novo treinador, com uma nova filosofia de jogo e pretensões diferentes dos anteriores, e comparando com o futebol jogado pelos rivais pelo título, é plenamente aceitável que os Blues não tenham sido os campeões da BPL. Mas, será que não poderiam ter conquistado a taça?
O time de José Mourinho terminou o campeonato na terceira colocação, quatro pontos atrás do campeão Manchester City. Foram apenas 6 derrotas, e 7 empates. As derrotas foram contra o Newcastle e Manchester City (2-0), Stoke City (3-2), Aston Villa e Crystal Palace (1-0), e Sunderland (1-2); e os empates, contra o Norwich, West Ham, Arsenal e Manchester United (0-0), Tottenham e West Bromwich (1-1), e novamente West Bromwich (2-2).
Nada de anormal, na Premier League, vermos gigantes tropeçando contra equipes menores. Mas a maioria destes "tropeços" do Chelsea, como bem posso me lembrar, foi pelos seus próprios defeitos, pelejando contra esquadrões montados, sobretudo, para se retrancar e sair de campo com um bom resultado contra um dos grandes do futebol inglês.

Os números não mentem: no empate contra o Norwich, o time de Mourinho ficou com 69% de posse de bola, contra 31% dos Canários. Chutaram 13 vezes (4 a gol), e o Norwich, apenas 5. Contra o West Ham, jogo de uma retranca absurda por parte dos Hammers, os Blues tiveram 70% de posse, finalizaram 22 vezes, e conseguiram 13 escanteios. O West Ham desferiu apenas 1 chute à meta de Cech, e tiveram 30% da posse de bola. No empate por 2-2 contra o West Bromwich, obtiveram, novamente, 69% de posse de bola, 17 chutes contra 11 dos Baggies - que saíram de campo com 7 jogadores pendurados -, armados, justamente, para se defender e contra-atacar.
Na derrota por 2-1 contra o Sunderland, conseguiram 61% de posse, e chutaram 14 vezes, e os Black Cats, apenas 3; o gol saiu numa falha terrível da arbitragem, ao validar um pênalti em Altidore.

Assisti à todos estes jogos, e me lembro bem da dificuldade imensa dos londrinos em perfurar as retrancas adversárias. No jogo contra o Atlético de Madrid, eu esperava um sistema mais ofensivo por parte de Mourinho, mas que não conseguisse transpassar o sistema defensivo, quase perfeito, dos colchoneros.

Essa fragilidade ofensiva não se deve, apenas, ao fato de os centroavantes do time terem desaprendido a arte de fazer gols, mas, também, a falta de um toque de genialidade na equipe, alguém que saiba ditar o ritmo ofensivo, que tenha um passe diferenciado, e que saiba achar espaços nas retrancas adversárias. Oscar não conseguiu fazer isso; Willian, tampouco. As tentativas de balançar as redes foram, em grande maioria, por meio de cruzamentos, ou então, tocando a bola para Hazard, para tentar uma jogada individual.

Então, vem a questão: "Se Mourinho não tivesse vendido Mata, nada disso teria acontecido". Foi um erro de 'Mou' vender o meia espanhol? Talvez. Uma vez que ele se demonstrava insatisfeito com sua condição no time, e sabendo que não contaria muito com o jogador, o português fez certo em vendê-lo. O erro maior foi no dia 18 de janeiro, como supracitado. Se sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria de vender Mata, Mourinho deveria contar com pelo menos um armador na equipe, alguém que fugisse das características do time inicial, que fosse diferente de Willian, Oscar, Hazard, Salah e Schürrle. Se De Bruyne não tivesse sido vendido, talvez, nada disso teria acontecido.

Jogando mais avançado na faixa central do campo, o belga é dono de passes impressionantes, e de uma noção de controle de ritmo muito boa; além disso, conta com suas qualidades individuais, como seus dribles precisos e ótimas finalizações. Foi o maestro do Werder Bremen na temporada 2012-13, e, por vezes, foi o tipo de jogador que faltou ao Chelsea quando a situação apertou. Com grande habilidade de leitura das jogadas, De Bruyne poderia, facilmente, achar algum vacilo das retrancas em que o Chelsea tropeçou, seja com seus belos passes, achando companheiros se deslocando às costas dos zagueiros, seja com seus ótimos chutes de fora da área. Um jogador muda, sim, a trajetória de um time num campeonato. Pode até parecer fanatismo de minha parte, mas com De Bruyne - e até mesmo Mata - o Chelsea poderia ter vencido esses jogos - e, quiçá, ser campeão da Premier League.

"A minha pré-temporada foi boa, o meu primeiro jogo também. Mas continuo sem saber porque perdi o meu lugar depois do duelo contra o Manchester United. Também, nunca perguntou a Mourinho e ele nunca me disse: "Kevin, você não treina bem".(...) dou sempre 100% nos treinos.(...)" - Relatou o jogador, quando já envergava a camisa do Wolfsburg

Passou por todas as seleções de base da Bélgica, e estreou em 2010, numa derrota por 1-0 para a Turquia. Na seleção principal, já tem 12 jogos, 5 gols e 8 assistências.


Esquema tático da Bélgica - feita no History


Pela seleção da Bélgica, sua função principal é a que mais gosta - joga de meia-armador. Porém, com algumas variações táticas promovidas por Marc Wilmots (técnico), pode ser escalado pelos lados, principalmente pela direita, e não cai de rendimento. Um dos melhores jogadores do time, e é o grande cérebro dali, e, com certeza, será titular durante a Copa do Mundo. Teve grande destaque durante a campanha da seleção nas Eliminatórias para a Copa, com 4 gols e 4 assistências.

Jogando pelo meio, costuma se aproximar constantemente à Lukaku, ora para assistir os gols do ótimo atacante, ora para realizar tabelas curtas com o mesmo, pois Kevin também tem grande aptidão para finalizar jogadas. Pelos lados, funciona muito bem abrindo espaços para as subidas de Alderweireld, e ao mesmo tempo, tem a obrigação de voltar pra marcar e cobrir os espaços deixados pelo lateral, função que não cumpre com tanta qualidade, já tem um histórico de alguns cartões amarelos na carreira.

No Grupo H da Copa do Mundo, a principal adversária da Bélgica será a Rússia. Capello monta a seleção num 4-1-4-1, sendo um time que aprendeu muito bem a utilizar o meio-campo, e que é muito disciplinado taticamente. Com Denisov mais fixo à frente da zaga, Faizulin e Shirokov devem ser os encarregados de povoar o meio-campo enquanto a Bélgica estiver com a bola; é uma seleção dura, mas nada que um futuro craque como De Bruyne não possa resolver, e colocar sua seleção nas oitavas de final da Copa do Mundo.

O talento do jogador:

Este vídeo mostra o que ele fez na pré-temporada do Chelsea. Explica muito bem o que eu quis dizer no texto:


Lances de De Bruyne com a camisa do Werder Bremen, na temporada 2012-13:


Alguns dos melhores lances do belga, desde o Genk:

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1 comentários:

  1. Marcelo Freitas29/05/2014, 00:44

    Belíssimo artigo!!! De Bruyne é um baita jogador, e você descreveu perfeitamente a habilidade dele e o que ele poderia mudar no chelsea!! Parabéns pelo blog, continue assim!!

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